domingo, 7 de fevereiro de 2010

Mais uma importante perda...

Amigos, tomei conhecimento ontem da morte do crítico literário Wilson Martins, ocorrida na semana passada. Creio que agora as pessoas poderão se dar conta de sua verdadeira importância...

31/01/2010 - 17:45

Por Roberty

Morre em Curitiba o escritor e crítico literário Wilson Martins

CURITIBA – Morreu neste sábado em Curitiba o escritor e crítico literário Wilson Martins, aos 88 anos, devido a complicações de uma cirurgia para a retirada da bexiga. Ele estava internado no Hospital Nossa Senhora das Graças.
O corpo será velado até as 17h deste domingo, na capela 3 do Cemitério Luterano, ao lado do Estádio Couto Pereira. Depois, será encaminhado para o Crematório Vaticano, também na capital paranaense, onde será cremado na segunda-feira, às 15h, em uma cerimônia reservada à família.
- Meu tio era um misto de tudo. Uma pessoa muito bem-humorada e realista. Aceitava várias condições diferentes de modo de vida das pessoas. Era nosso professor. Com ele, aprendemos os ensinamentos de vida – afirmou o sobrinho do escritor, João Luiz Guazi, de 50 anos.
Wilson Martins nasceu em São Paulo, em 1921. Formado em direito, resolveu se especializar em letras, atingindo o título de doutor. Tornou-se professor de literatura francesa na UFPR e deu aulas de literatura brasileira em universidades dos Estados Unidos. Na Universidade de Nova York ele trabalhou por 26 anos, onde se tornou professor emérito, e se aposentou em 1992.
Martins foi colunista dos jornais “O Globo”, “Jornal do Brasil” e “Gazeta do Povo”. O crítico recebeu prêmios como o Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, por duas vezes, por volumes do livro História da Inteligência Brasileira, e o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, em 2002, pelo conjunto de sua obra.

Comentário

Narro um episódio pessoal, para demonstrar a grandeza de Wilson Martins.
Em 1994, quando saiu “América Latina, Males de Origem”, de Manoel Bonfim (escrita no começo do século 20), o impacto em mim foi imediato. Estávamos ali, discutindo o desenho do novo país. Havia um acúmulo de ideias novas, de perspectivas novas sobre os limites entre mercado e Estado, sobre os fatores de nacionalidade na formação do país. E a discussão emperrando na visão interesseira e imediatista dos economistas do Real e seus planos mágicos
O livro de Bonfim mostrava o mesmo processo, o que ocorreu no governo Campos Salles, os descalabros nas contas públicas e o papel dos “financistas”, prescrevendo cortes orçamentários que incidiam exclusivamente sobre programas sociais e sobre o interior. E usando todo o repertório de retórico dos economistas do Cruzado e do Real: estudamos fora, temos o domínio sobre a última ciência, salvaremos o país…. Era o retrato do Brasil, cem anos antes.
Entusiasmei-me pela obra, divulguei-a em várias colunas. Foi esse paralelo impressionante entre o início da República e o da Nova República que me fez continuar acompanhando os passos de cá, comparando com os de cem anos e que resultou em “Os Cabeças de Planilha”.
Quando saiu um segundo livro do Bonfim, o Zé Mário, da Topbooks, me pediu para escrever a contracapa. Dentro, dois prefácios, um do Wilson Martins desancando o Manoel Bonfim por um argumento que considerei inconsistente. Dizia que Bonfim vivia criticando os Bragança. Depois que veio a República passou a enaltecê-los, na comparação com os novos mandatários. Ora, a avaliação histórica de qualquer governante passa pela comparação com aqueles que o sucedem. Se Lula tivesse sido um desastre, FHC seria reavaliado como estadista. Martins ignorava o modelo de país desenhado na obra de Bonfim, a leitura crítica e consistente do modelo americano, a identificação da separação histórica entre Estado e Nação, os ensinamentos que passava – cem anos depois – sobre os fatores fundamentais de cidadania.
Escrevi uma coluna criticando o que considerava sua falta de atenção sobre aspectos essenciais de Bonfim, muito mais essenciais do que a análise relativa sobre os Bragança.
Tempos depois, ele deu uma entrevista para uma revista cultural, a Senhor, se não me engano. Lá, perguntaram o nome de um grande intelectual brasileiro injustamente esquecido pelo pensamento dominante. Citou Manoel Bonfim, com a observação de que muitas pessoas tinham visto nele uma visão de país avançada até para os dias de hoje.
Longe de mim chegar a um centésimo da erudição de Martins. E quem me dera ter uma parte da humildade intelectual disponível apenas nos grandes intelectuais

Disponível em: http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/01/31/a-morte-de-wilson-martins-o-critico/