domingo, 30 de agosto de 2015

Seresta cubana

Salsa

Ritmo boliviano

Ritmo equatoriano

Ritmo indígena argentino

O velho Beto Barbosa!!




"Um ponto de vista às vezes depende da vista do ponto", costuma me dizer um amigo próximo. Convivi com muitos ritmos populares na época em que trabalhava em feiras livres com os meus pais, viajando em cima de carga de caminhão, dormindo em baixo de caminhão, acordando com enxurrada nos molhando, gritando e batendo facas em barracas de feira para atrair fregueses. Vi a alegria da alma brasileira em muitas dessas ocasiões, guardadas muitas vezes em músicas como esta. Não lembro com saudosismo, mas vejo que estas músicas soam quase sempre como uma péssima nota entre os intelectuais brasileiros; exceção que faço a José Ramos Tinhorão, que já chegou a publicar estudos da modinha à lambada.  Os ritmos dessa excelente banda de instrumentistas que acompanha Beto Barbosa são para mim parte da identidade do nosso continente, do México ao Brasil. Vejo ritmos de tango, música flamenga, indígena, africana e até da composição Cumbres, de José Pablo Moncayo em músicas como esta. No Brasil, ao que parece, uma parcela dos intelectuais quer construir o país deixando de fora o povo. Não se pode abrir mão da arte erudita, mas não se pode ignorar o legado rítmico do povo, até mesmo  para que o Brasil não deixe de existir enquanto país um dia. Lembro-me de, há muito tempo, ter lido em Uma nova história da música, de Carpeaux, que um leigo só conseguiria enxergar a diferença entre Mozart e Haydn graças ao folclore originário da região de cada um deles. Os instrumentistas brasileiros conseguiram, até os anos oitenta, manter os olhos nos ritmos brasileiros e produziram obras de qualidade inquestionável. É esse material em grande parte que é aproveitado pelos eruditos, como se vê na música de Villa-Lobos, na literatura de Suassuna, Guimarães Rosa e Mário de Andrade. Talvez até seja um pouco sobre esta espiritualidade que Richard Moorse estivesse também se referindo em O espelho de próspero. Esta alegria era, até recentemente, a expressão de um continente que aspirava à vida, independentemente de suas agruras, sacrifícios materiais e tudo o mais.