domingo, 14 de novembro de 2010

Vale a pena ler...


SONHANDO COM O IMPOSSÍVEL

O Neurocientista Miguel Nicolelis, em aula inaugural do segundo semestre de 2009 na Universidade de Brasília (UnB), quebra o protocolo, e em sua surpreendente Aula da Inquietação é ovacionado por um público emocionado.

"Vocês, principalmente os que estudam em universidades públicas, representam os sonhos de realização de milhões de pessoas que jamais poderão vir para cá. São brasileiros que diariamente levantam da cama para trabalhar em empregos que muitos de nós jamais teríamos a coragem de enfrentar no nosso dia-a-dia, para que vocês possam estar aqui.

O sonho que não se converte em realidade inibe o indivíduo que perde a autoconfiança e o pior, causa a inibição coletiva do entorno que vê um sonhador derrotado. Quando um sonhador delirante é derrotado, a mediocridade triunfa e isso é terrível.

Vocês não foram postos aqui pelo resto do Brasil para fazer algo medíocre. Vocês foram postos aqui, receberam esse privilégio de toda a sociedade brasileira, para construir uma nação, e uma nação só se constrói se sonhando com o impossível, sem se esquecer do próximo.

Eu sou de uma geração que tentou fazer o que vocês têm a chance de fazer e fracassou. Nós não conseguimos construir o Brasil que nós queríamos, mas temos agora a oportunidade de testemunhar a tentativa de vôo de vocês.

Na história inteira deste país, vocês são primeira geração que tem verdadeiramente a chance de
transformar este país num exemplo para a humanidade toda.

Não existe uma expressão que eu abomine mais quando eu venho para o Brasil, quando alguém vira para mim e fala: Nossa, as coisas que fazem lá, no seu laboratório, é coisa de primeiro mundo. Eu paro pra pensar e digo: "Mas que primeiro mundo é esse? De onde vem isso?" Ou então quando ocorre alguma coisa negativa na nossa vida cotidiana e alguém fala: "Isso só acontece no Brasil".

Eu tenho uma boa e uma má notícia para aqueles que usam essa expressão e gostam do primeiro mundo: O primeiro mundo faliu, em todos os sentidos; faliu financeiramente, faliu moralmente, faliu eticamente... E agora vem a boa notícia: O primeiro mundo agora é aqui.

E foi por isso que nos fomos para Natal a seis anos atrás, para tentar realizar um outro sonho impossível, criar um instituto de ponta de neurociência comprometido com a transformação da realidade social daquela região, Hoje ela tem a maior escola de educação cientifica infanto juvenil do Brasil, para 1000 crianças da rede publica de Natal, que são hoje os primeiros brasileiros a terem uma educação publica em tempo integral.

Elas eram esquecidas, elas faziam parte do pior distrito escolar do país, de acordo com as estatísticas do MEC. As quatro piores escolas do país estavam nessa região, e foi ali que nos selecionamos 1000 crianças da escola publica e trouxemos elas para aprender ciência de ponta. Essas crianças, de 10 a 16 anos, se transformaram em protagonistas do próprio ensino, elas não têm aula teórica, elas freqüentam os melhores laboratórios de ciência e tecnologia que existem no Brasil para crianças, construídos para crianças, e elas hoje dão banho em qualquer criança de qualquer escola privada do estado de São Paulo, e elas se orgulham de serem descendentes dos índios potiguares, os únicos índios tupi guarani que resistiram à colonização portuguesa.

E sabe onde vocês vão encontrar cada um desses 1000 alunos, que vão virar 5000, e que graças a um decreto que vai ser assinado pelo ministro da educação e pelo presidente da republica, vão se transformar um milhão de crianças pelo Brasil afora, daqui a alguns anos? Aqui na UNB, na USP, na Unicamp, elas vão se transformar em agentes de transformação social, de baixo para cima, não de cima para baixo.

E quando elas chegarem lá, podem acreditar, o prédio ao lado (Senado) vai ser ocupado por outro tipo de gente."

Fonte: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/miguel-nicolelis-sonhando-o-impossivel

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Mais uma importante perda...

Amigos, tomei conhecimento ontem da morte do crítico literário Wilson Martins, ocorrida na semana passada. Creio que agora as pessoas poderão se dar conta de sua verdadeira importância...

31/01/2010 - 17:45

Por Roberty

Morre em Curitiba o escritor e crítico literário Wilson Martins

CURITIBA – Morreu neste sábado em Curitiba o escritor e crítico literário Wilson Martins, aos 88 anos, devido a complicações de uma cirurgia para a retirada da bexiga. Ele estava internado no Hospital Nossa Senhora das Graças.
O corpo será velado até as 17h deste domingo, na capela 3 do Cemitério Luterano, ao lado do Estádio Couto Pereira. Depois, será encaminhado para o Crematório Vaticano, também na capital paranaense, onde será cremado na segunda-feira, às 15h, em uma cerimônia reservada à família.
- Meu tio era um misto de tudo. Uma pessoa muito bem-humorada e realista. Aceitava várias condições diferentes de modo de vida das pessoas. Era nosso professor. Com ele, aprendemos os ensinamentos de vida – afirmou o sobrinho do escritor, João Luiz Guazi, de 50 anos.
Wilson Martins nasceu em São Paulo, em 1921. Formado em direito, resolveu se especializar em letras, atingindo o título de doutor. Tornou-se professor de literatura francesa na UFPR e deu aulas de literatura brasileira em universidades dos Estados Unidos. Na Universidade de Nova York ele trabalhou por 26 anos, onde se tornou professor emérito, e se aposentou em 1992.
Martins foi colunista dos jornais “O Globo”, “Jornal do Brasil” e “Gazeta do Povo”. O crítico recebeu prêmios como o Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, por duas vezes, por volumes do livro História da Inteligência Brasileira, e o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, em 2002, pelo conjunto de sua obra.

Comentário

Narro um episódio pessoal, para demonstrar a grandeza de Wilson Martins.
Em 1994, quando saiu “América Latina, Males de Origem”, de Manoel Bonfim (escrita no começo do século 20), o impacto em mim foi imediato. Estávamos ali, discutindo o desenho do novo país. Havia um acúmulo de ideias novas, de perspectivas novas sobre os limites entre mercado e Estado, sobre os fatores de nacionalidade na formação do país. E a discussão emperrando na visão interesseira e imediatista dos economistas do Real e seus planos mágicos
O livro de Bonfim mostrava o mesmo processo, o que ocorreu no governo Campos Salles, os descalabros nas contas públicas e o papel dos “financistas”, prescrevendo cortes orçamentários que incidiam exclusivamente sobre programas sociais e sobre o interior. E usando todo o repertório de retórico dos economistas do Cruzado e do Real: estudamos fora, temos o domínio sobre a última ciência, salvaremos o país…. Era o retrato do Brasil, cem anos antes.
Entusiasmei-me pela obra, divulguei-a em várias colunas. Foi esse paralelo impressionante entre o início da República e o da Nova República que me fez continuar acompanhando os passos de cá, comparando com os de cem anos e que resultou em “Os Cabeças de Planilha”.
Quando saiu um segundo livro do Bonfim, o Zé Mário, da Topbooks, me pediu para escrever a contracapa. Dentro, dois prefácios, um do Wilson Martins desancando o Manoel Bonfim por um argumento que considerei inconsistente. Dizia que Bonfim vivia criticando os Bragança. Depois que veio a República passou a enaltecê-los, na comparação com os novos mandatários. Ora, a avaliação histórica de qualquer governante passa pela comparação com aqueles que o sucedem. Se Lula tivesse sido um desastre, FHC seria reavaliado como estadista. Martins ignorava o modelo de país desenhado na obra de Bonfim, a leitura crítica e consistente do modelo americano, a identificação da separação histórica entre Estado e Nação, os ensinamentos que passava – cem anos depois – sobre os fatores fundamentais de cidadania.
Escrevi uma coluna criticando o que considerava sua falta de atenção sobre aspectos essenciais de Bonfim, muito mais essenciais do que a análise relativa sobre os Bragança.
Tempos depois, ele deu uma entrevista para uma revista cultural, a Senhor, se não me engano. Lá, perguntaram o nome de um grande intelectual brasileiro injustamente esquecido pelo pensamento dominante. Citou Manoel Bonfim, com a observação de que muitas pessoas tinham visto nele uma visão de país avançada até para os dias de hoje.
Longe de mim chegar a um centésimo da erudição de Martins. E quem me dera ter uma parte da humildade intelectual disponível apenas nos grandes intelectuais

Disponível em: http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/01/31/a-morte-de-wilson-martins-o-critico/